Eu não sei porque o céu é azul, pode parecer tolo e meio sem graça, mas eu não sei mesmo. Tenho tantas perguntas em mim que por vezes mal consigo distinguir minhas exclamações; talvez me perca nos detalhes de uma simples revoada de pássaros, num grito, no silêncio, sei lá... Ontem, quando cheguei em mim, fiz uma faxina geral em todos os cômodos dessa minha louca e infame-santa existência. Fiz questão de não empurrar nada pra debaixo do tapete, mas não escondo que alguns cantinhos empoeirados me vencem pelo cansaço.
É preciso ficar horas com um paninho limpando os cantinhos com muito cuidado e paciência, confesso descaradamente que fujo dessas aberrações animalescas que me fazem impura. Falta-me coragem pra cutucar os cantinhos, desmontar minhas mascaras, meus móveis interiores e limpar cada detalhe. Na maioria das vezes que chego em mim, estou empoeirada e desarrumada, protelo grandes mudanças e me agarro a projetos existenciais utópicos e anestésicos que me receitam uma engoda sensação de sonhos e melhorias absurdamente fantásticas. Nestes momentos chego a tocar o céu, sou perfeita, insanamente intocável porque meus projetos são grandiosos, mas alguns dias ou mesmo horas depois o vento forte entra e faz as poeiras dos cantinhos sujos se espalharem por mim e novamente me encontro desarrumada e todo teatro hipócrita que montei ao longo dos anos recomeça.
Ouvi uma musica que diz: “Eu não consigo ser feliz o tempo inteiro...”, seria meio louco afirmar que sou a única que se encaixa nisso, mas minha propensão a viver sorvendo o que o vento me traz, faz com que eu não limite as indagações e exclamações que se misturam e causam um vendaval em cada pedacinho de mim. Não sou feliz o tempo inteiro, não sou triste o tempo inteiro, e pra falar a mais pura verdade, não sou eu mesmo o tempo inteiro.
Posso morrer de sede num oásis, posso me saciar num deserto; sozinha na multidão e cercada por muitos quando estou só. Confuso? Talvez seja mesmo, ando tropeçando em meus caminhos e desesperadamente buscando algo pra segurar bem forte só pra ter a certeza de que a brisa não me arrastará pra longe de mim.